terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

FUNDAÇÃO PAN-AMAZÔNIA

A Fundação Pan-Amazônia tem o objetivo de promover o pan-amazonismo solidário e a integração dos povos amazônicos, os quais se deparam, todos, com os mesmos desafios, mas os enfrentam separadamente.

A iniciativa surge por considerar-se fundamental despertar a identidade única e compartilhada por todos os povos amazônicos, que existe de fato, (pois todos vivem a mesma realidade de precariedade socioeconômica e de pouca representatividade política no que tange às decisões que os afetam diretamente), mas sem consciência ativa dessa identidade.

1. A relevância da sociedade civil como promotora do pan-amazonismo

Não é prioridade dos governos nacionais dos países amazônicos promover o pan-amazonismo. Talvez, alguns considerem o empoderamento dos amazônidas como fonte de eventuais dificuldades para o controle do poder central na região.

Os amazônidas não são cidadãos de segunda classe, não podem aceitar a condição de “tutelados” por seus compatriotas das regiões mais “desenvolvidas” dos países amazônicos. Não obstante, “espaços” amazônicos são ocupados por não-amazônidas. Com efeito, instâncias que lidam especificamente com temas de interesse da região, que deveriam estar nas mãos de amazônidas, a serviços dos amazônidas, são ocupadas por quem não é da região; por quem nao tem nenhum compromisso com os povos da Amazônia; por aqueles que servem a interesses externos e espúrios. Trata-se de uma verdadeira usurpação, passivamente, aceita pela sociedade amazônica, que, embora se indigne, não se organiza, tampouco se articula para defender seus interesses.

Os governos locais tampouco constituem a melhor instância para a promoção do pan-amazonismo, uma vez que, eventualmente, dependem de recursos dos governos nacionais, o que relativiza a autonomia de defender posições nem sempre simpáticas ao poder central.

As instâncias diplomáticas multilaterais, igualmente, têm-se mostrado inviáveis para fomentar o pan-amazonismo. Atreladas às Chancelarias, vêem-se, muitas vezes, paralisadas por interesses nacionais discordantes.

Nesse cenário, resta à sociedade civil da Amazônia defender seus próprios interesses por meio do congraçamento de seus povos, pois nesse congraçamento repousa a esperança e a sua fortaleza.

2. Breves considerações sobre o cenário no qual a Fundação Pan-Amazônia atua

A Amazônia sempre atraiu a atenção mundial. A intensidade varia de acordo com o tempo e os ofatos. Acentuou-se, por exemplo, com a morte de Chico Mendes ou com o assassínio da religiosa americana Dorothy Stang.

O vetor do zelo internacional, atualmente, é o aquecimento global. Mas, as notícias envelhecem e a Amazônia seguirá seu peculiar destino: ser uma das regiões do planeta mais observada e, ao mesmo tempo, uma das mais abandonadas. A sorte dos povos amazônicos continuará, como sempre, embalada pelo banzeiro dos grandes rios.

Nesse ponto, reside a ironia do interesse internacional pela Amazônia, ou seja, a incapacidade de traduzir essa preocupação em reflexão global, profunda, verdadeira e comprometida com a solução da dramática situação em que vivem vastas parcelas da população amazônica.

Há muito discurso, contudo, não há ação internacional concreta e eficaz. Os governos estrangeiros, os organismos internacionais e as ONGs que criticam os Países amazônicos oferecem – é verdade - cooperação financeira e técnica, mas a ajuda se perde em ações pontuais e equivocadas. Falta clareza sobre o que fazer com a Amazônia. É um vazio de destino histórico que engendra políticas de desenvolvimento decididas nas capitais nacionais, longe da realidade amazônica. Políticas decididas por gente que não é amazônica, sem nenhum compromisso com os interesses e com as aspirações mais legítimas das populações da região.

Parte da solução seria transferir o poder para aqueles que vivem na Amazônia, os verdadeiros “donos” da região. Gente que é flagelada pela precariedade econômica que se traduz em profundo drama social. Populações inteiras que vivem em cidades miseráveis, sociedades fustigadas por todos os males: prostituição juvenil, enfermidades típicas da Idade Média, etc.
Desses, o mais doloroso é abandono da infância. Por milhares de quilômetros, nas margens dos grandes rios da Amazônia, se revela o mesmo cenário: crianças sem acesso à escola, à saúde; isolados, abandonados, ignorados pelo Estado. Nessas crianças, fomenta-se uma nova geração de adultos destituídos.

A verdade é que para as sociedades nacionais e para as elites políticas dos oito Países amazônicos, a sorte dos povos da Amazônia não é um tema central. As capitais nacionais estão muito distantes, com seus interesses históricos direcionados para outros focos.

Assim, há que se delegar poder à gente amazônica, proporcionando os meios para que tome em suas mãos a condução de seus destinos coletivos e individuais.

É correto afirmar que a Amazônia é um tema que interessa a muitos, uma vez que o futuro de suas florestas pode afetar a todos no planeta. É justo ainda que todos manifestem sua preocupação e que opinem. A decisão sobre o destino amazônico, contudo, pertence somente aos povos amazônicos.

Não é possível que os recursos amazônicos continuem sendo explorados por forasteiros, por grandes empresas multinacionais, sem deixar quase nada para os povos da Amazônia. O lucro e o bônus se destinam a grandes investidores externos. Aos amazônidas, cabe apenas o ônus e as perdas sócio-ambientais.

A Fundação Pan-Amazônia se dedica a promover ações conducentes a despertar a sociedade amazônica sobre a importância de tomar em suas mãos as rédeas do presente e mudar a direção para um futuro promissor não só para as gerações futuras da Amazônia, mas de todo o planeta.

Belisario Arce
Pan-Amazonista Engajado

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